Desenhos nas férias

Não tenho nada para te dizer,
Sei que também não me queres ouvir.
Lutamos surdamente.
 Ninguém nos ouve, mas todos sabem.

Não serás assim, porque não é assim que te arrumo.
Assim, só te imagino.
Mas não te desejo.

Prefiro desenhar movimentos.
Não pares para mim.
Não quero desenhar a tua pose.

Rato de Laboratório

O adeus que nunca queremos dizer

Só azul

O livro continua

Estou aqui para virar a página. Não o provoquei, simplesmente aconteceu e eu escolhi não alterar nada. Mantive a dobra e assumi-a. Não a assumo como feita por mim, mas assumo-a como minha. Não a desejei porque nem sequer a equacionei.

 O pássaro porou. Vinha com uma camisa às riscas. É tão estranho. Nunca tinha visto um pássaro vestido. É quase tão estranho como aquela árvore onde ele descansa; daqui, onde estou, quase me parece uma cadeira.

rotunda

O sol chegou!

O que diz a minha cara

Não fazias sentido, estavas demasiado preocupado em transmitir e não o conseguias fazer. Então, risquei-te! Risquei-te sem medo!! Olha que bonito que ficaste. Agora já fazes sentido e nem te apercebes. Agora riscado e sujo não te importas com mais nada.

Íman

No banco de jardim

Por parecer fácil não quer dizer que seja.

Associação Livre

Sentado no sofá deixo a cabeça voar e ela sobe em direcção ao tecto e ela desprende-se do corpo.

 E é nessa altura que penso em vestir-me como tu, mas isso não me faz ser como tu.

Sirvo-me de mais um chá. Não consigo abandonar os meus pensamentos, mesmo com a cabeça a bater no tecto como um balão. Tento recordar a tua cara mas não consigo. 

Só me lembro do homem que vi hoje no comboio. Saiu 5 paragens antes de mim.

O sono não chega e a vontade de ir para a cama está longe. A cama já não é o meu descanso, a cama é onde os pesadelos me perseguem e o cansaço impede-me de abandoná-la. Não percebo isto.

O meu corpo já não responde como antes, com a idade está a ficar caprichoso.
Odeio esta palavra!

Eu sei que ele me espera no jardim. A espera é longa e ele ficou velhinho sem se aperceber. Ninguém lhe diz.
Vive enganado, o velho...

E tudo se passou numa conversa de café no Domingo de manhã. 

na parede da despensa

Começaram a aparecer, na parede da despensa, seres estranhos.

Mas já não vivo sem eles.

Bolo de chocolate com cobertura de mousse

Querida Pessoa Ocupada,

O tempo que demoraste a explicar-me porque estás ocupada dava para resolveres os assuntos que tens pendentes, tomares um relaxado café comigo e ainda fazer um bolo de chocolate com cobertura de mousse.

Retive-vos!

 Um passeio pela cidade, a observação das movimentações e algo capta a minha atenção nunca sei muito bem porquê.

À noite o sono não vem, a caneta está inquieta e o caderno olha-me fixamente. Desenho-te a dançar, gosto tanto de te ver dançar. Porque paraste?

 Novamente na cidade, o teu chapéu chamou-me mas troquei-te o corpo. Prefiro desenhar algo mais familiar. Troquei o teu corpo pelo meu; o troquei a tua posição pela minha; troquei a minha história pela tua.

Foram as meias. E a cor seguiu-me. Uma cor de cada vez.

Alguns postais

Desenhar é amar, mas amar não é desenhar. Alimenta-me com as tuas vontades, procura por mim na casa isolada. O que estou a fazer, consegues ver? Usa a lupa, pega na pétala caída e vê para onde o vento a leva. É aí que eu estou. Consegues ver-me? Consegues tocar-me? Consegues desenhar-me?  

Espelho

Falam ao longe, comem ao longe, passeiam ao longe.

E eu sou apenas uma estátua que recorda momentos para que não me escapem.

 

Um longo domingo de busca

Desenhar mostra o que não viste antes, traça as ligações que não aparecem a olho nú.

Desenhar obriga-te a olhar, a analisar, a entender.

Desenhar leva-te daí.

Mulheres

Expostos na Sociedade Martins Sarmento (Guimarães),

incluidos na exposição 'Cartografias da Memória e do Quotidiano'.

Até 15 de Abril.